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Busto de Elon Musk, inagurado em 2024 na autoestrada 4 junto a Starbase em Boca Chica, no Texas |
Tenho sido bombardeado com perguntas sobre as notícias divulgadas pela imprensa sobre as ameaças de cortes de fundos federais à minha alma mater, a Brown University. O primeiro alvo foi a Columbia University, depois Harvard e agora Brown. Como o New York Times é só para assinantes, vai aqui a notícia publicada no jornal diário da Brown, o Brown Daily Herald,
As
razões apresentadas são simplesmente ridículas e seguem as regras do costume:
dar a volta à realidade e noticiar como convém, usando a linguagem que a gente
do MAGA gosta e aplaude.
Em
53 anos de vida na Brown, nunca vi nenhum anti-semintismo. O que sempre
presenciei foi uma notoriamente larga presença de professores e alunos judeus,
bem como de administradores. É assim em todas as Ivy Leagues e na maioria das
grandes universidades americanas. Claro que há um grupo ativo anti-Netanyahu e
pró-palestiniano, mas isso não significa anti-semitismo. De qualquer modo, no
ano passado os 100 alunos (100 apenas entre 10 mil) que acamparam no Brown
Green, a praça central da universidade diante do edifífico da reitoria,
exigindo que a Brown retirasse os investimentos nalgumas firmas israelitas,
acabaram negociando um acordo. Se se recordam, contei aqui como me reuni com
cinco alunos do grupo de liderança (eram meus alunos no University Course) e
como lhes recomendei calma, diálogo e busca de uma situação de compromisso (compromising
em inglês é diferente, significa "ambas as partes chegarem a um acordo").
No
fundo, do que se trata é de um ataque às melhores universidades acusando-as de
elitismo, uma maneira de atacar a investigação científica nas áreas em que
Trump não está interessado, inclusive as áreas da saúde.
Se
quiserem ver a reação da corporação (o órgão que supervisiona o governo
da universidade, formada por gente eleita mas que não trabalha na
universidade), aqui vai:
https://mail.google.com/mail/u/0/#search/Brown+freedom/FMfcgzQZTzXvHcqzrPnfvfTBTHJVScXw
Tal
como disse há tempos, a procissão ainda vai no adro.
Onésimo Teotónio de Almeida
A
exemplo de Boukhara, um dos monumentos mais importantes de Khiva é a fortaleza.
Denominada
de Koukhna Ark na língua usbeque, tem fundações do Século V e muralhas
acrescentadas ao longo dos séculos.
Foi
a residência principal dos khans de Khiva, um refúgio fortificado para tempos
de incerteza.
A antiga religião de Zaratustra, o Zoroastrismo, foi predominante na Região e, em especial na Pérsia, até às invasões árabes. Aqui acredita-se que o profeta teria nascido em Khiva no Século VII antes de Cristo. Zaratustra foi um percursor lançando conceitos como o monoteísmo, o Céu e o Inferno ou o livre arbítrio.
Ainda
hoje permanecem vestígios dessa influência como é o caso de uns azulejos verdes
em forma de laço muito presentes na arquitectura de Khiva. Representam o lema
fundamental do zoroastrismo: Bons pensamentos, boas palavras, boas acções.
José Liberato
Tirando o acervo documental, felizmente e em
grande parte conservado e tratado, de Amílcar Cabral, para além das suas obras
de cariz ideológico na luta anticolonial e como líder revolucionário,
restam-nos poucos depoimentos de responsáveis do PAIGC, tanto no que se refere
ao período da luta armada como nos tempos posteriores. Há uma primeira obra de
Aristides Pereira, para a qual concorreu Leopoldo Amado, uma segunda também
deste alto dirigente entrevistado pelo jornalista José Vicente Lopes, desta
feita mais disponível e quebrando sigilos do passado; há o testemunho de Luís
Cabral sobre a obra do irmão, a par do seu percurso dentro do PAIGC, biografia
e hagiografia; temos igualmente testemunhos de dirigentes ou quadros do PAIGC
de origem cabo-verdiana ou guineense, mas o cabal esclarecimento que comportam
é diminuto, alguns deles têm até a
particularidade de serem de pura vanglória ou procurarem trazer justificação às
tragédias de governação a partir de 1974 (das quais eles não têm qualquer
responsabilidade).
O que Rosário Luz vem procurar neste trabalho
biográfico (ou autobiográfico?) sobre Manecas Santos é procurar revisitar a
viagem de uma sigla, revelada efémera, sobre a unidade Guiné-Cabo Verde,
contando com um ator de eleição, o então jovem cabo-verdiano Manuel Maria
Monteiro Santos, nascido na cidade de Mindelo, em ambiente burguês, tendo
estudado em Lisboa e daqui partido para a luta, preparando-se em Cuba, e
depois, degrau a degrau, galgando a hierarquia e assumindo responsabilidades
nomeadamente no período histórico de 1973, quando o aparecimento dos mísseis
Strela abanaram fortemente a última supremacia que restava às Forças Armadas na
Guiné; viagem que se prolonga com o seu desempenho no poder do Estado, como
chegou a ministro da Economia e das Finanças e vem agora depor sobre o colapso
do Estado. Temos, pois, Manecas Santos na primeira pessoa, em jeito de prólogo
fala da sua chegada à Guiné em 1968, como fez a tarimba, com quem combateu e
aonde, em 1971 passa a ser comandante de um corpo de Exército e no ano
seguinte, tendo voltado de treinos em antiaéreos na Crimeia, irá assumir o
comando militar na frente norte.
Fala-nos do Mindelo, da família e do meio;
concluído o liceu em S. Vicente, vem para Lisboa, estuda na Faculdade de
Ciências, refere-nos os estudantes africanos, em 1964 parte para Paris, daqui
segue para Argel, depois Havana, confessa que a intensidade do treinamento
físico foi implacável e que, fisicamente, a guerra na Guiné não foi mais do que
um passeio. Descreve o Exército de Libertação e como ele foi concebido por
Amílcar Cabral. “Cabral cuidava pessoalmente da formação de todas as unidades
do Exército. Era ele quem escolhia o comandante, o segundo oficial e organizava
toda a estrutura. Apesar da sua baixa estatura, emanava autoridade, e quando
era necessário impor-se, fazia-o sem titubear. No entanto, possuía uma natureza
afável e um trato agradável. Mantinha uma relação de extrema proximidade com os
soldados, chamando cada um pelo nome e visitando frequentemente as bases para
verificar o andamento das operações.” Menciona o recrutamento dos
guerrilheiros, como o trabalho de mobilização foi encetado no Sul. Alude à
organização tanto do Exército como o papel das milícias, o apoio dado pela
União Soviética, observa a importância da medida tomada no I Congresso em que o
poder miliar ficou subordinado ao poder político. E deixa-nos uma descrição
detalhada de como se processou a guerrilha na Guiné, esta foi o palco das mais
violentas das guerras coloniais. É neste preciso instante que Manecas Santos
nos traz a primeira inverdade: em meados de 1968, cerca de dois terços do
território já estavam sob a administração do PAIGC.
Há cerca de 18 anos à porfia no que concerne a
História da Guiné Portuguesa e a História da Guiné-Bissau, tenho-me deparado
com mitologias e mentiras cujos autores teimam em franco despudor reincidir. O
doutor Carlos Lopes, a quem devemos estudos de alto significado, escreveu que
na Operação Tridente o PAIGC tinha abatido 500 militares portugueses; o
historiador português Rui Ramos veio dizer que em 1970 o PAIGC tinha sido
sustido, já não tinha bases na Guiné, vinha do exterior, flagelava e retirava –
pergunta-se como é que é possível uma tirada destas quando possuímos a história
das campanhas da Guiné que demonstram inequivocamente que nesse ano de 1970
íamos aos mesmo santuários em que PAIGC estava instalado há anos, e com pouco
sucesso.
Inevitavelmente, falará da operação de cerco a
Guidaje e da resposta das tropas portuguesas enviando um batalhão de comandos
africanos até uma base do PAIGC em Cumbamory. Dirá: “Sofremos baixas
absolutamente negligenciadas: cinco feridos e nenhum homem morto. O exército
colonial sofreu baixas pesadas. O adversário deixou 16 cadáveres em campo,
todos de comandos africanos.” Desse-se Manecas Santos ao cuidado de investigar
o que sabemos sobre tal operação, teria ido ao Arquivo da Defesa Nacional, onde
existe um registo das transmissões portuguesas que interferiram nas
transmissões de Cumbamory para Conacri, onde se diz abertamente que as forças
do PAIGC tiveram um número de mortos superior a 60…
Quanto ao assassinato de Cabral, é contido, não
fala nem na PIDE nem em Spínola, dirá que foi praticado por ilustres
desconhecidos, está certamente esquecido que o embaixador de Cuba em Conacri,
Oscar Oramas, chegou pouco depois ao local do crime, e escreveu mais tarde que
viu Osvaldo Vieira, entre outros, a esconder-se atrás da vegetação; acontece
que esses ilustres desconhecidos ameaçaram todo o grupo cabo-verdiano de morte,
deram-lhes ordem de prisão, enquanto se dirigiam para Sékou Turé. Acontece que
não existe nenhum documento que comprove qualquer propósito de Spínola ou da
PIDE para induzir tal assassinato. Mas convém deixar sempre no ar de que o
complô tinha o braço longo de Spínola e dos seus infiltrados.
Reconheça-se a importância do seu depoimento na
época do pós-Cabral, dá-nos um retrato da multiplicidade de contradições dentro
do PAIGC e da sua ocupação do Estado, relata o definhamento ideológico, fala da
sua atividade como ministro e quantos aos fuzilamentos praticados pelo PAIGC,
dirá algo de surpreendente, que talvez por volta de 1976 Luís Cabral jantou com
Ramalho Eanes em Belém, e este ter-lhe-á pedido que fossem devolvidos a
Portugal antigos efetivos do exército colonial, Cabral Terá concordado, convocou
altos responsáveis, entre eles António Alcântara Buscardini, chefe dos Serviços
de Segurança do Estado e este, com toda a desfaçatez informou Cabral que os
soldados não podiam ser devolvidos porque já tinham sido executados, tinha
tomado individualmente tal decisão, Cabral engoliu a afronta. A história
seguramente estará na desmemória de Manecas, haverá fuzilamentos, que estão
devidamente registados até dezembro de 1977, e há que perguntar como é que é
possível um chefe de segurança andar a praticar matanças sem o presidente
saber. Nino Vieira será uma rábula parecida depois de 14 de novembro de 1980,
manda abrir as valas de gente executada, ele que era primeiro-ministro, também
não sabia…
Um testemunho para juntar ao de outros líderes do PAIGC, impõe-se como um retrato fiel do desmoronamento do Estado, onde Manecas Santos foi elemento preponderante.
Mário Beja Santos
Prossegui
o périplo dinamarquês na ilha da Zelândia, a maior da Dinamarca se não considerarmos
a agora tão falada Gronelândia.
Primeiro,
estive no Mosteiro de Sorø.
O
mosteiro foi instituído em 1140, tendo passado à importante Ordem de Cister em
1162.
Muito
foi destruído desde então. Mas muito resta para ser visto, nomeadamente a
Igreja construída em tijolo e no modelo seguido pela Ordem em toda a Europa.
No interior, para além de um magnífico fresco representando São Cristóvão, encontram-se vários túmulos reais. Entre eles o de Valdemar IV, bisneto da Infanta de Portugal D. Berengária, filha do nosso rei D. Sancho I, que foi rainha da Dinamarca ao casar-se em 1213 com o rei Valdemar II.
No
Norte da ilha da Zelândia, visitei a igreja de Egebjerg, existente pelo menos
desde 1295. É uma das mais antigas igrejas da Dinamarca construída em pedra.
Tem
um único fresco que mostra um São Cristóvão lutando com as águas revoltas de um
rio onde um peixe salta. O Menino Jesus senta-se
na sua mão direita enquanto, com a mão esquerda, o Santo se apoia no cajado que
já floresce abundantemente.
A
imagem, de três metros de altura, data da segunda metade do Século XIV e
caracteriza-se por o Santo ter um aspecto franzino quase de Madonna, o que é
invulgar.
A
igreja de Egebjerg situa-se junto ao litoral e constituía ponto de referência
dos navegadores. Por isso talvez a presença do nosso Santo.
Muito próximo, a praia de Lommestenen com uma beleza invernal muito própria destas costas do Mar do Norte:
Fotografias de 4 e 5 de Fevereiro de 2025
José Liberato
Se
as imagens diurnas da cidade de Khiva, antigo oásis, são lindíssimas, as
noturnas não ficam atrás.
Não
precisam aliás de palavras.
Fotografias
de 2 e 3 de Outubro de 2024
No
início de Fevereiro, tive a oportunidade de ir à Dinamarca e não deixei de
aproveitar para procurar imagens de São Cristóvão no país.
A
Dinamarca é constituída por um grande número de ilhas, cerca de 1400. A ilha
mais a Sudeste é a de Møn.
Nela
se situa a Igreja de Fanefjord dedicada a São Nicolau. A sua construção
iniciou-se cerca de 1250. Como em muitas igrejas dinamarquesas, os frescos são
excepcionais. Os mais antigos são da segunda metade do Século XIV e um deles
representa São Cristóvão. Os restantes são datados de cerca de 1500.
Foram
todos tapados com cal em 1536 por altura da adesão à Reforma, tendo apenas sido
redescobertos em 1929.
Um dos mais interessantes é o da dupla intercessão. À direita, a Virgem Maria, acompanhada por um grupo de mulheres, implora a um Jesus Cristo agonizante. À esquerda, Jesus Cristo ajoelhado intercede junto de Deus, sentado no Seu trono.
Sanderum
situa-se no centro da ilha de Fiónia, por sua vez no centro da Dinamarca.
A
sua Igreja de São Miguel foi construída em 1150, tendo sido acrescentada com
uma torre por volta de 1400.
Os
frescos da igreja são magníficos. Um deles representa São Cristóvão.
Outro
apresenta a imagem de Cristo numa mandorla, uma aréola oval em forma de
amêndoa. A Virgem, à Sua direita aponta para um peito de forma a mostrar que é
Sua Mãe. O Seu amigo São João Baptista encontra-se à sua esquerda. Uma espada
perfura a Sua cabeça, mas do outro lado surge transformada em ramos e flores.
Noutro
ainda, podemos ver Santa Ana dando um fruto ao Menino Jesus na presença da
Virgem Maria.
Imagens
muito explícitas mostram o diabo em atitudes escabrosas.
José Liberato
Para
ir da cidade de Boukhara para a cidade de Khiva, há que atravessar o deserto de
Kyzil Kum. É um dos maiores desertos do Mundo, estendendo-se por cerca de 300
000 quilómetros quadrados, uma área correspondente a três vezes a área de
Portugal.
Apercebemo-nos
como, no tempo da Rota da Seda, estas cidades eram oásis num longo e penoso
caminho entre a China e o Mediterrâneo.
Khiva
é considerada a mais intacta e remota cidade da Rota da Seda. Aqui os viajantes
encontravam poços de água doce que saciavam a sede de quem fazia milhares de
quilómetros em condições extremas. Mas era também cidade de ladrões e escravos.
No Século XIX uma expedição militar, tentou sem sucesso libertar 3 000 escravos
russos.
O
Khan de Khiva foi destituído em 1919 para dar lugar a uma efémera República
Soviética do Khorezu. Só em 1924 foi integrada no Usbequistão.
A
cidade é de uma beleza extraordinária. As suas ruelas e os seus monumentos
dão-lhe um encanto muito especial.
Fotografias de 2 e de 3 de Outubro de 2024
José Liberato
A terra sobre os olhos
O historiador da arte Bernard Berenson nasceu Bernhard Valvrojenski, em Butrimonys, na Lituânia, numa família judia; tendo-se convertido ao cristianismo, foi episcopaliano quando a família emigrou Boston em 1875, e, em seguida, católico, quando já vivia em Itália, para onde se mudou depois de ter viajado na Europa em 1887, após a licenciatura. Berenson nunca deixou de se confrontar com a questão judaica; numa entrada do diário, de 2 de Setembro de 1953, deixou uma observação esperançosa. Via no poder nacional e no valor militar nele fundado uma carta de alforria, o caminho para a igualdade.
«Não serem objecto de desprezo» é
do que os judeus precisam. Certamente, nenhum outro «povo» – quero dizer um grupo
cuja coesão foi mantida por hábitos, usos, costumes, tradições, rituais –
nenhum outro povo que chegou até aos nossos dias com uma história ininterrupta de
uns bons três mil anos serviu tão bem a humanidade. Aos cristãos e aos
maometanos deu-lhes a sua religião, nunca deixou de contribuir para o
pensamento e a literatura, e, nos últimos 150 anos, nenhum outro povo esteve
presente de modo tão criativo e tão fecundo em todos os aspectos da actividade
humana, até na militar quando lhes foi permitido. Que a maior parte dos não judeus sinta
desprezo por eles, porém, não só os torna ressentidamente infelizes e
servilmente ansiosos por serem bons burgueses, acatando as regras da média em
todos os países, mas leva-os também a desprezarem-se a si mesmos até ao ponto
de se suicidarem, como foi o caso de Weininger. A solução pode estar num Estado
plus – um plus muito grande – a glória militar, o único valor que
todos nós reconhecemos como supremo. Se os judeus criassem um Estado militar
poderoso, desapareceria o desprezo de que são alvo.»
É uma concepção de uma época, de
duas épocas atrás. Dos tempos em que os judeus ficavam à porta da sociedade,
partilhando com outros grupos marginais e marginalizados a mesma condição de
inferioridade. Apesar da emancipação civil e política, o ferrete das origens
não desaprecia. Berenson vê no poder, entendendo que é antes de mais o poder de
responder taco a taco, de armas na mão, armas iguais às dos agressores, a
possibilidade de os judeus se constituírem como um povo em pé de igualdade com
os outros povos. A derrota do nacional-socialismo seria o fim da discriminação;
a fundação do Estado de Israel, soberano entre soberanos, a ratificação última
da igualdade. E, no entanto, o nazismo não foi o derradeiro capítulo de uma
história contínua, milenar de perseguição. Foi algo de novo. E essa novidade
permaneceu. Na concepção nacional-socialista, a dualidade ariano-judeu constitui
uma oposição insanável, que está para lá de todo e qualquer conflito político,
são dois tipos absolutos e de igual poder. Para que um viva, o outro tem de
morrer. Assim, o judeu foi guindado a uma posição insigne, negativamente
insigne. Se no pós-guerra, um pós-guerra que começa uma década depois do fim
das hostilidades (recorde-se as dificuldades de Isaac Schneersohn para erigir um memorial do genocídio; inaugurado
apenas em 1956, foi até ao início da década de 60 o único do mundo num espaço
público), o judeu não é exactamente igual, isso deve-se ainda a ter sido
alvo de todo o género de exacções e violências. O apoio da União Soviética a
vários países do Médio Oriente assinalou o início do divórcio da opinião
pública, por via esquerdina, é certo, mas não só por aí, relativamente a
Israel. Paradoxalmente, foi ao mesmo tempo o início da entronização do estatuto
que o nazismo atribuíra aos judeus. Os inimigos figadais de ontem geraram ambos
o mesmo fruto e, nesta coincidentia oppositorum diabólica, os
judeus tornaram-se a encarnação do mal absoluto e universal no mundo. O poder,
em que tantos depositaram as esperanças da igualdade, revelou-se, numa
desfiguração retroactiva, o elemento que apunha o selo definitivo no novo
estado de coisas. Em grande medida, o 7 de Outubro de 2023 consumou o que veio
à luz com o nacional-socialismo – foi a sua vitória. Por mais que custe
dizê-lo. As meias tintas que vigoraram depois de 45 (mas também a Shoah,
entendida quase sempre à luz da continuidade história) ficaram para trás,
caracterizam uma época – hoje vista como indecisa pelo novo sentido que um novo
acontecimento lhe impôs – que acabou por não ser um crédito adiantado, antes foi
o início de uma dívida cuja cobrança coube por fim ao 7 de Outubro de 2023 e às
suas repercussões. Pelo poder, a igualdade almejada retirou-se do mundo, e
deixou cadáveres como a maré vazia deixa destroços numa praia. Cadáveres
absolutos e universais de uma nova época.
João Tiago Proença
É
tempo de voltar ao nosso querido rectângulo. Visitei em Janeiro três freguesias
todas no Norte de Portugal e tendo como orago São Cristóvão.
Comecei
pela freguesia de Candemil na parte Sudeste do concelho de Amarante, junto ao
concelho de Baião. A paróquia já é mencionada no Século VI, sendo chamada de
Sancto Christophori de Candemir a partir de 1152, ou seja, antes da Lenda
Dourada de Voragine que estabelece a história de São Cristóvão!
A
igreja sofreu imensas alterações, as últimas das quais no Século XIX, sendo que
todas as imagens foram roubadas no início do século seguinte.
No
interior, uma imagem no altar-mor e outra na sacristia.
Totalmente
remodelada no Século XVIII, a igreja Paroquial de Mondim de Basto, é hoje uma
típica igreja de estilo barroco. De gótico, apenas a porta lateral. O tecto
ostenta, no caixotão central, a imagem de São Cristóvão.
Finalmente,
e também em Trás-os-Montes, a Igreja Paroquial de Parada de Cunhos no concelho
de Vila Real é também barroca. Tem imagens de São Cristóvão num nicho da
fachada, no tecto como na igreja de Mondim de Basto e no altar-mor.
Fotografias
de 17 de Janeiro de 2015
José Liberato